Nos últimos anos, a agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) consolidou-se como um fator essencial para empresas em todo o mundo, especialmente no setor de alimentos, onde os desafios relacionados à sustentabilidade e governança são cada vez mais evidentes. Além das demandas crescentes de consumidores e investidores, o aumento da regulamentação, impulsionado por normas como IFRS S1 e S2, exige que as empresas se adaptem rapidamente para atender a novos padrões de transparência e responsabilidade corporativa.
A adesão voluntária aos padrões ISSB (International Sustainability Standards Board), que inclui as normas IFRS S1 e S2, está ganhando força. Pesquisa recente da Abrasca com empresas de capital aberto revelou que, embora a adoção obrigatória ainda esteja distante, muitas companhias estão antecipando a implementação desses relatórios de sustentabilidade. Esse movimento reflete a pressão crescente por parte da sociedade e dos investidores, que buscam maior transparência sobre como as empresas estão gerenciando seus impactos ambientais, sociais e de governança.
O setor de alimentos, em particular, enfrenta desafios significativos no gerenciamento de seus impactos ambientais, desde a utilização de recursos naturais até a emissão de gases de efeito estufa.
A gestão eficiente desses recursos é uma prioridade, especialmente sob o escopo da IFRS S1, que exige que as empresas relatem os riscos financeiros associados a questões climáticas e ambientais. Para atender a essas exigências, é fundamental que as empresas estabeleçam políticas de redução de emissões, otimizem o uso de água e energia, e implementem práticas de compensação de carbono.
A agricultura regenerativa e o uso de energias renováveis, como solar e biomassa, emergem como estratégias eficazes para reduzir os impactos ambientais, ao mesmo tempo em que aumentam a resiliência da cadeia produtiva. Empresas que adotam essas práticas estão mais preparadas para enfrentar regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas, como aquelas previstas pela IFRS S2, que exige a divulgação de riscos climáticos e as estratégias de mitigação implementadas.
No âmbito social, o setor de alimentos tem a responsabilidade de garantir a segurança alimentar e promover a saúde do consumidor. A transparência no uso de ingredientes e a clareza na rotulagem de produtos são requisitos essenciais para atender às expectativas crescentes por parte dos consumidores. Sob as normas IFRS S1, as empresas devem relatar como suas operações impactam a saúde pública e as comunidades locais, promovendo uma relação mais transparente e responsável com a sociedade.
Além disso, as empresas devem garantir condições de trabalho dignas e seguras para seus funcionários e parceiros ao longo da cadeia de valor, como agricultores e fornecedores. O respeito aos direitos humanos e trabalhistas fortalece a cadeia de fornecimento e contribui para o desenvolvimento das comunidades locais. Empresas que adotam políticas de inclusão social e diversidade em suas operações têm um impacto social positivo, além de melhorar seu desempenho em relatórios ESG.
A governança é um dos pilares mais críticos de uma estratégia ESG eficaz e, uma estrutura de governança robusta garante que a empresa opere com políticas claras de anticorrupção, auditoria e compliance. As normas IFRS S1 e S2 reforçam a necessidade de uma divulgação clara e transparente sobre como as empresas estão gerenciando seus impactos ambientais, sociais e de governança, proporcionando maior segurança para investidores e outros stakeholders.
Apesar da importância crescente das práticas ESG, muitas empresas enfrentam desafios operacionais significativos na implementação dos novos padrões de relatórios. A pesquisa da Abrasca indicou que 70,6% das empresas já iniciaram diagnósticos sobre os requisitos das normas IFRS S1 e S2, mas ainda existem preocupações com a coleta de dados, a integração entre áreas da empresa e a garantia de que as métricas financeiras e de sustentabilidade sejam divulgadas de forma conjunta.
Entre os desafios mencionados pelas companhias estão a necessidade de revisar os controles internos, a rastreabilidade e conectividade dos dados, além dos custos associados à implementação de sistemas que garantam a conformidade com as novas exigências de relatórios. As empresas precisam garantir que os requisitos operacionais e técnicos sejam atendidos, o que demanda uma colaboração multidisciplinar entre diferentes áreas, como contabilidade, ESG e relações com investidores.
De todo o exposto, entendemos que a adoção antecipada das normas IFRS S1 e S2 pode oferecer uma vantagem competitiva significativa para as empresas do setor de alimentos. À medida que a sustentabilidade se torna cada vez mais central para as decisões de negócios, as organizações que adotarem práticas ESG robustas estarão mais bem posicionadas para atender às expectativas de investidores, consumidores e reguladores.
Empresas como Vale e Renner já estão à frente nesse processo, e a tendência é que mais organizações sigam esse caminho nos próximos anos, de forma que a jornada para implementar uma estratégia ESG sólida deve ser encarada como uma prioridade estratégica, integrada ao núcleo de tomada de decisão das empresas, com o objetivo de garantir uma divulgação transparente e coerente dos impactos ambientais, sociais e de governança, conforme previsto pelas normas IFRS S1 e S2.