Introdução:
Empresas familiares representam um pilar fundamental na economia global, impulsionando a geração de empregos e o desenvolvimento socioeconômico. No entanto, a longevidade e o sucesso a longo prazo dessas empresas são frequentemente desafiados por obstáculos complexos relacionados à sucessão intergeracional. A complexidade surge da interação entre fatores emocionais, familiares e empresariais, especialmente quando diferentes gerações de proprietários possuem valores e visões divergentes sobre o futuro do negócio, ou conforme destaca o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que:
“a sucessão na família é o processo de transição na família, na maioria das vezes influenciado pelo ciclo vital de seus integrantes. Envolve a aprendizagem de novos papéis, uma readequação do sistema familiar, em especial daqueles que surgirão como uma nova geração de líderes e que, ativamente, exercem influência, ainda que no âmbito familiar, dando ritmo ao processo de transição”.
Desafios Intergeracionais e Divergência de Valores:
A sucessão em empresas familiares é um processo intrincado que exige planejamento estratégico e uma estrutura de governança robusta para garantir a continuidade e o crescimento do negócio. A falta de um planejamento estruturado pode resultar em conflitos familiares, disputas por poder e, em última análise, na dissolução da empresa.
Um dos principais desafios reside na divergência de valores e expectativas entre as gerações. A geração fundadora, muitas vezes imbuída de um forte senso de apego e visão tradicionalista, pode se mostrar resistente à mudança e à inovação. Em contraste, as novas gerações, influenciadas por um mundo em constante transformação, tendem a buscar modernização e novas abordagens estratégicas.
Gestão Estratégica e Governança Sólida como Pilares da Continuidade:
A gestão estratégica desempenha um papel crucial na superação desses desafios. A definição clara de metas de longo prazo, a busca por mercados inovadores e a capacidade de adaptação às demandas do mercado são elementos essenciais para garantir a competitividade da empresa familiar.
Uma estrutura de governança sólida é igualmente fundamental. A implementação de um Conselho de Administração profissional, composto por membros da família e conselheiros externos independentes, contribui para a tomada de decisões mais objetivas e estratégicas. A criação de um Conselho de Família, por sua vez, oferece um espaço para discutir questões familiares e empresariais, promovendo a comunicação transparente e a resolução de conflitos. Nesse sentido, o IBGC, em sua publicação “Sucessão em empresas familiares”, explica que:
“planejar a sucessão levando em conta essas dimensões ajuda a segregar os interesses, direitos e obrigações dos envolvidos, a prever como as possíveis mudanças afetarão a família, a gestão e a propriedade, a desenvolver estratégias para lidar com essas questões e a preparar sucedidos, sucessores e demais grupos envolvidos”.
Concluindo em seguida que:
“Será preciso, nesse processo, entre outras medidas:
• Definir, rever ou implementar as regras estabelecidas no acordo de sócios e na estrutura societária.
• Definir e respeitar as estruturas de governança corporativa e familiar.
• Nutrir valores familiares e uma cultura de empreendedorismo.
• Preparar os integrantes da próxima geração para seu principal papel: serem sócios.
• Preparar membros da família para exercerem os papéis definidos pela governança familiar e corporativa.
• Atrair os melhores talentos para compor o quadro de liderança na empresa.
• Assegurar a legitimação do sucessor executivo pela família e pelos proprietários.”
Conclusão:
A sucessão em empresas familiares é, portanto, um processo desafiador que exige planejamento estratégico, governança sólida e comunicação transparente entre as gerações. A gestão eficaz dos conflitos intergeracionais, a capacidade de adaptação às mudanças do mercado e a busca constante por crescimento e inovação são elementos chave para garantir a continuidade e o sucesso a longo prazo dessas empresas, perpetuando, assim, o legado familiar.”
Referências:
- Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Sucessão em empresas familiares. São Paulo: IBGC, 2020.