Impactos da reforma tributária no setor varejista

A reforma tributária instituída pela Emenda Constitucional 132/2023 e regulamentada pelo PLP 68/2024 representa uma mudança drástica no sistema tributário nacional, que terá impactos profundos sobre o setor varejista. Este setor, marcado por alta competitividade, margens de lucro reduzidas e ciclos de estoque rápidos, enfrenta agora desafios adicionais que exigem uma adaptação significativa para manter a competitividade e eficiência fiscal.

Entre as principais críticas à reforma, destaca-se a complexidade e os custos associados à modernização dos sistemas contábeis e fiscais. A introdução do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substituirão o PIS, Cofins, ICMS e IPI, exige uma revisão total das rotinas operacionais. Empresas varejistas precisarão investir em soluções tecnológicas avançadas para garantir o cumprimento das novas exigências, o que pode ser particularmente oneroso para pequenos e médios varejistas.

Outro ponto crítico é a necessidade de ajustar a emissão de documentos fiscais para se adequar às novas regras. Esse ajuste não apenas acarretará investimentos significativos, mas também demandará uma reestruturação das operações, especialmente para empresas com grande volume de transações. O custo e a complexidade desse processo podem ser desproporcionais para muitas empresas, especialmente para aquelas que já enfrentam margens de lucro estreitas.

Do ponto de vista financeiro, as novas alíquotas do IBS e da CBS afetarão diretamente as margens de lucro e as estratégias de preços das empresas varejistas. A revisão das margens e estratégias para se adaptar às novas cargas tributárias será fundamental, e a gestão de fluxo de caixa se tornará ainda mais crítica devido à necessidade de planejamento financeiro rigoroso para garantir a disponibilidade de caixa.

A mudança para o split payment, onde o recolhimento dos tributos ocorrerá no momento do pagamento, também poderá impactar negativamente o fluxo de caixa das empresas varejistas. A necessidade de ajustar as estratégias de gestão financeira para acomodar essa nova dinâmica representa um desafio adicional para o setor.

Embora a reforma traga a promessa de benefícios fiscais e regimes diferenciados, como alíquotas reduzidas para produtos da cesta básica e concessão de créditos presumidos, a implementação e o controle desses benefícios podem ser complicados. Empresas precisarão lidar com a complexidade adicional de aproveitar esses incentivos de forma eficiente.

As operações de importação e exportação também serão afetadas. Ajustes nos custos e na precificação de produtos importados e a imunidade do IBS e da CBS nas exportações trarão mudanças significativas, exigindo adaptação das estratégias de comércio exterior.

Além disso, a transição para o novo sistema tributário ocorrerá simultaneamente com o antigo, aumentando a carga administrativa e exigindo treinamento extensivo para todos os setores da organização. A adaptação não se restringe às áreas fiscal e contábil, mas afetará toda a operação.

Embora a reforma possa abrir oportunidades para otimização e novos mercados, os desafios impostos pelo novo sistema tributário são consideráveis. O setor varejista precisará de um planejamento cuidadoso, investimento em inovação e uma gestão financeira rigorosa para garantir sua continuidade e crescimento neste novo ambiente tributário. A transformação, se mal gerida, pode aumentar a carga tributária e administrativa e comprometer a competitividade do setor.

Sobre o(a) Autor(a)

Fernando de Melo Monteiro Filho

Pós graduado em Direito da Economia e da Empresa pela FGV, pós-graduado em Direito Tributário pela PUC-MG, graduado em Direito pela PUC-MG e em Engenharia Mecânica também pela PUC-MG.

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