Elevando a Responsabilidade Corporativa no Brasil: O Papel da Materialidade ESG

Experimentamos nos últimos tempos um interesse crescente, tanto por parte de indivíduos, quanto de organizações, por questões ligadas à sustentabilidade e à responsabilidade corporativa, e muito desse interesse decorre de uma conscientização tardia da urgência de tratarmos com a atenção devida questões ambientais que poderão, em um prazo cada vez mais curto, afetar a sobrevivência de todos, inclusive das organizações. Tal fato, tem se refletido em uma crescente cobranças dos stakeholders por uma atuação mais responsável e transparente por parte das organizações. E é nesse contexto que o conceito de materialidade ESG surge como um instrumento essencial para impulsionar a transparência, a credibilidade e o desempenho sustentável das organizações.

Nesse cenário, um dos principais obstáculos para as organizações é a capacidade de identificar de forma precisa quais os temas de sustentabilidade ou responsabilidade corporativa que mais impactam suas operações e partes interessadas. Diante da diversidade de temas afeitos ao ESG e da necessidade de priorização, as organizações se veem diante do desafio de equilibrar diferentes interesses e necessidades, desde a gestão responsável dos recursos naturais até o respeito aos direitos humanos.

A coleta e análise de dados extensos para avaliar o impacto das questões de sustentabilidade nos resultados financeiros e nas partes interessadas são desafios adicionais. Muitas organizações ainda carecem de sistemas de relatórios integrados e robustos, o que dificulta a obtenção de informações precisas e confiáveis que apontem a eficácia ou não das políticas ESG adotadas.

No mesmo sentido, a ausência de clareza na elaboração e preparação destes relatórios impedem que as organizações de fato garantam que a materialidades ESG apontadas estejam, de fato, alinhadas com a estratégia de negócios da organização e integrada em todas as operações.

Ressaltando, que a integração materialidade ESG, estratégia de negócios e operações, dependem inexoravelmente de uma mudança cultural e organizacional, ou seja, a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa, não podem ser vistas apenas como uma questão periférica, mas sim como parte fundamental da estratégia da organização.

A comunicação clara e transparente das informações relevantes sobre a materialidade ESG para os stakeholders internos e externos também representa um desafio. As organizações têm a árdua missão de transmitir informações cada vez mais complexas de forma acessível e compreensível a todos os stakeholders.

Além disso, a aderência aos padrões internacionais de relatórios ESG e às regulamentações locais pode representar um desafio adicional para as organizações no Brasil. A conformidade com essas diretrizes requer investimentos significativos em

capacitação, tecnologia e processos, especialmente para empresas que ainda estão se adaptando a essas normas.

Apesar dos desafios, o movimento em direção à materialidade ESG no Brasil é inegavelmente positivo. À medida que as organizações superam obstáculos e se comprometem com práticas mais transparentes e sustentáveis, elas não apenas fortalecem sua posição no mercado, mas também contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e ambientalmente consciente.

Portanto, é crucial que as organizações continuem a investir em sistemas robustos de relatórios, capacitação de funcionários e colaborações estratégicas para enfrentar os desafios e colher os benefícios da materialidade ESG. Somente assim poderemos garantir um futuro sustentável e próspero para todos.

Sobre o(a) Autor(a)

Daniel Cerqueira

Sócio Coordenador da Área Societária do Moises Freire Advocacia, com experiência e atuação em Direito Societário e Governança Corporativa, atua com foco nas reestruturações societárias, operações de transformação, incorporação, fusão e cisão de Sociedades, formulação e revisão de documentos e atos societários, estruturação e/ou aprimoramento de processos de Governança Corporativa.

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